2007
Publicado por POS - segunda-feira, 31 de dezembro de 2007 às 04:24.O rosa cueca fere-me as vistinhas, mas alguma vez haveria de o lincar... é agora
0 Comments Publicado por POS - às 00:56.Nem mais.
Etiquetas: blogues
que forjaram um novo Portugal

Nada em História pode resumir-se a confrontos entre bons e maus, mesmo que a isso induza a iconografia com que nos identificamos. O leão esmagou a águia e Portugal ficou salvo? Ou terá o felídeo britânico significado uma outra forma de opressão que nos esmagou irremediavelmente? Talvez a realidade, se a ela nos atrevermos a almejar, mostre o fado de um país que, mesmo nos momentos de esplendor, sempre alguma fraqueza sentiu entre os poderosos que se erguiam.
Nesse dia diluviano de 1807, Junot cruzou a fronteira beirã, decidido a conduzir um exército faminto à capital do reino. A Lisboa chegou ao cabo de 11 dias, não a tempo de impedir a partida da Corte para o Brasil, inaudita e precipitada (embora prevista e planeada) travessia do Atlântico encetada um dia antes. Mais do que a crueldade das tropas, do que as pilhagens e os desastres, mais que o fragor das batalhas ou do que a sanha do vulgo espezinhado, terá sido essa deslocalização da capital o facto, decorrente da guerra, que mais perenes e radicais mudanças deixou.
A decisão do príncipe regente D. João, posteriormente sexto monarca do nome e sétimo da casa de Bragança, é vista por muitos como um gesto de cobardia, triste corolário da proverbial indecisão do filho de D. Maria I (entretanto endoidecida) que não nascera para governar. Mas não havia novidade na indecisão posicional deste nosso país quando necessário se tornava tomar partido entre franceses e ingleses, assim sucedera com D. Fernando, por exemplo, aquando da medieva Guerra dos Cem Anos. A ida para o Brasil, talvez a única forma de impedir a aniquilação disto que somos, foi uma inexoravelmente submissa forma de aliança com os ingleses, que, mais do que garantir a defesa contra o invasor – Arthur Wellesley, depois duque de Wellington, é figura incontornável –, assumiram a gestão deste rectângulo e invadiram comercialmente o Brasil, abrindo caminho para a independência da colónia, em 1822, que cortou pela raiz o que até então havia sido a realidade económica portuguesa.
Aos olhos dos franceses de hoje, Portugal não passa de uma nota de rodapé, ou pouco mais, nos capítulos consagrados às guerras hispânicas. Por cá, todavia, as invasões comandadas por Junot, Soult (1809) e Masséna (1810) deixaram marcas que perduram. Na linguagem (“Ir para o Maneta” é expressão comum, inspirada no sangrento general Louis-Henry Loison), nos rituais (há ainda quem acenda velas no baixo-relevo alusivo ao desastre da Ponte das Barcas, na Ribeira portuense), nas histórias de família (aqui e ali, sobretudo em meios rurais, há casas em que se mostram vestígios da passagem dos invasores), no património (pilhado, salvo ou erguido em evocação desses anos)... Em tudo, até na forma diferente como se dizem as horas em pontos distintos do país.
Jornal de Notícias, 19 de Novembro de 2007
Etiquetas: Guerra peninsular, JN
Etiquetas: Guerra peninsular, JN
Onde está o Wally? (II)
3 Comments Publicado por POS - sexta-feira, 28 de dezembro de 2007 às 16:56.
Etiquetas: eu
Ora aqui está algo que todos os blogues (excepto causa nossa e afins) poderiam reproduzir
0 Comments Publicado por POS - às 15:34.
Três dias de luto foram decretados por Pervez Musharraf, esse insigne democrata, após o assassínio de Benazir Bhutto. O Paquistão, lá longe, é dos países que mais assustam o mundo, porque é uma potência nuclear que a qualquer momento pode cair nas mãos dos extremistas islâmicos. Assim sendo, Musharraf, que tem sido aliado incómodo dos americanos na "guerra contra o terror", está à vontade para retomar o estado de emergência e, até, mandar às malvas as eleições que, ao que tudo indica, já tinha controlado devidamente. E o Ocidente baixará as orelhas, porque nada disto tem a ver com democracia.

Etiquetas: Bhutto, fundamentalismos, terrorismo
Etiquetas: Porto
Etiquetas: jornalismo
Pois há muito tempo que não perorava sobre as diferenças das nossas terrinhas...
0 Comments Publicado por POS - às 11:25.Depois, lá esclareceu qualquer coisa: "Numa loja, a maior ambição do tipo que tem a chave, para abrir a porta de manhã, é deixar de ser ele a abrir a porta".
Mas o que mais me interessa, agora, são as ruas cheias de gente. Aí, o antigo correspondente da RTP falou nas inevitáveis diferenças culturais entre Madrid e Barcelona, lembrando que os da Catalunha têm o hábito de receber em casa, algo bem mais raro entre os da capital. Ora, acabei de ler um texto do meu conterrâneo Manuel Serrão, no blogue Bússola, em que essa diferença é decalcada na dualidade Porto-Lisboa. Se, por um lado, me parece bem, o certo é que não gosto dessas verdades definitivas, porque das coisas que mais me entristecem no Porto é o deserto em que que a cidade se transforma quando inactiva. Quando os espanhóis (e não são só os de Madrid) saem do trabalho, juntam-se para uns copos e umas tapas, conversam alegremente, circulam descontraidamente. Por cá (e em Lisboa é a mesma coisa), vemos a multidão carrancuda em filas para os transportes que as levam aos subúrbios. Enquanto os espanhóis têm bares aos pontapés, nós temos o "pão quente" que fecha às sete, o café que adormece se não estiver a dar a bola, o restaurante que só serve até às 22, quando não se governa exclusivamente com almoços servidos à classe trabalhadora.
Os de Barcelona recebem em casa, os do Porto recebem. Os de Madrid não recebem? E os de Lisboa? Não sei se se passa o mesmo nas duas capitais, mas, se assim é, a minha explicação é outra. Embora Lisboa seja a cidade mais cantada, ilusão que resulta da forma quase absoluta como domina o universo mediático português, é, enquanto conceito algo muito mais difuso do que o Porto. Tem menos alma. Porque a convergência permanente de pessoas que ali vão em busca de oportunidades (o típico português "adaptável", que logo se torna "alfacinha de gema") fazem com que a identidade lisboeta seja uma miragem, fado enlatado que apenas serve para as promoções turísticas do ministro Manuel Pinho. Assim, a alma de Lisboa é algo que não se percebe bem, é um vazio que os de lá disfarçam com a máscara do cosmopolitismo.
Só que nada disso chega para demonizar os encontros em restaurantes ou o convívio libertador ao fim da tarde. É isso que falta ao Porto. Toda a gente, arranjada, na rua, a celebrar a vida (ou a suportar a vida). Pelo menos, quando não chove.
Etiquetas: eu, quotidiano

Pela sabedora e generosa mão do Germano Silva me chegou este livrinho, útil para escritos que tenho de fazer sobre determinado assunto, mas fico pasmado logo com o primeiro parágrafo do que este Firmino Pereira, denodado jornalista portuense, deu à estampa em 1914. Pasmado, porque ele, visionário, encontrou com quase cem anos de antecedência a descrição desta cidade em que alguns nos mergulharam (talvez a maioria dos eleitores, enfim...): lamentabilíssima.
Etiquetas: ontem como hoje, Porto
Another time, another life
Publicado por POS - sábado, 22 de dezembro de 2007 às 23:49.Etiquetas: gastronomia, prazer, santuários
Etiquetas: jornalismo
Etiquetas: eminências pardas, Imprensa, JN
Um (entre tantos) dilema liberal
0 Comments Publicado por POS - quarta-feira, 19 de dezembro de 2007 às 12:12.
Etiquetas: fundamentalismos, futebol, liberalismo
Etiquetas: eu, quotidiano

Etiquetas: eminências pardas, Imprensa

Etiquetas: blogues, eminências pardas, vaidade
As costas largas da noite
0 Comments Publicado por POS - segunda-feira, 10 de dezembro de 2007 às 22:45.
Persiste a chuva por fora, por dentro, na pele, nas entranhas. No corpo e na alma. Não há forma, nestes dias, de associar a chuva a um cantaroleiro Gene Kelly. Apenas o choro compulsivo dos anjos ou o cinismo de demónios cuspideiros. Hoje foi Dia da Mãe, à moda antiga, isto é, como sucedia antes de o marketing, na sua capacidade de vender ambos os progenitores, rasgando sorrisos aos clientes, ter transferido a homenagem para Maio. Agora, todos os dias, horas e minutos são da Mãe, pouco importa o que mostra o calendário, mas aproveito, com esta imagem de mãe e filha, fixada em Setembro de 2006, para honrar todas as que trouxeram alguém a este mundo desconcertante.
Etiquetas: eu
Da simplicidade do espírito
0 Comments Publicado por POS - sexta-feira, 7 de dezembro de 2007 às 15:03.A criação do mundo é a sequência da Fonte das Virtudes que foi a sequência do Cerco do Porto. Todos são, desde esse bloguisticamente prolífico Verão de 2003, reflexos condicionados do que sou. Condicionados pela vontade, pela disposição, pelas limitações. Mas sempre condicionados, à uma porque ninguém abre todas as portas, às duas por o talento ser modesto, às três porque a vida não está na Internet. Pouco tenho a dizer, como nota introdutória, além de que o espírito será sensivelmente idêntico, mudando o blogue da forma como eu mesmo mudo. Ou seja, sem saber como mudarei, como mudamos todos, não poderei dizer o que aqui muda. Apenas o que fica e é o que penso dos blogues: espontâneo, inconstante, pessoal mas público. E sempre assinado.
Bem-vindos.
Etiquetas: Blogue
Recomeçar
Publicado por POS - às 01:45.Que o tempo de viver
Seria longo, suave, pleno
De anos e de dias. Sereno
E rico de esperança.
Capaz de nos animar
E de nos fazer amar
Cada passo desta dança
Em que crescemos,
Sempre com vagar,
Como se fosse chegar
A paz que, pelo menos,
Nos deixasse cumprir
As promessas que, a rir,
Calámos em segredo,
Travados pelo medo.
Sempre, nessas juras de novo mundo,
Fingimos não saber
(embora todos saibamos, no fundo)
Que o tempo não permite
Viver além do limite
Que é morrer.
Mesmo se muitos,
Os anos são poucos no coração.
Assim no teu, Mãe, que sem razão
Parou.
Calou
Todo o amor
Que só dentro de mim grita
Um berro que me agita,
Sob a máscara petrificada
De quem não acredita.
Não quisemos saber, querida,
(embora o soubéssemos bem)
Que não se manda no tempo e na vida.
Que apenas se obedece,
Morrendo
Ou vivendo
Com a morte.
(Re)aprendendo
A viver
Até
Ao
Fim.
Etiquetas: eu