A criação do mundo


Da vida do Porto

«Houve uma época em que o Porto notavelmente se distinguiu pela intensidade da sua vida tão fecunda e tão laboriosa. Serenadas as paixões politicas que agitaram profundamente o paiz e desvanecidos os receios de novos tumultos que comprometessem a paz, tão precisa ao progresso e ao desenvolvimento das sociedades, o Porto, depondo a espingarda com que heroicamente se batera no cêrco e na patuleia, reentrou na sua vida de trabalho, canceirosa e diligente. Mourejou e divertiu-se. De dia, ao balcão ou na oficina, manejando o tear ou estendendo o covado, grangeava o seu pão e o dos filhos na ancia cubiçosa e sofrega que foi sempre a grande carateristica do mercador tripeiro. A' noite, comida a ceia e resado o Terço, o excelente burguez divertia-se o melhor que podia nas suas sociedades particulares, nas suas Filarmonicas, nos seus teatrinhos ingenuos, até á hora pacata do dôce e sereno sono reparador. A vida portuense ha meio seculo era realmente pitoresca, e muito mais curiosa e interessante do que a de hoje, sob todos os pontos de vista lamentabilissima na sua chata e sorna imbecilidade.»

Pela sabedora e generosa mão do Germano Silva me chegou este livrinho, útil para escritos que tenho de fazer sobre determinado assunto, mas fico pasmado logo com o primeiro parágrafo do que este Firmino Pereira, denodado jornalista portuense, deu à estampa em 1914. Pasmado, porque ele, visionário, encontrou com quase cem anos de antecedência a descrição desta cidade em que alguns nos mergulharam (talvez a maioria dos eleitores, enfim...): lamentabilíssima.

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2 Responses to “Da vida do Porto”

  1. # Blogger altohama

    Meu Caro,

    É bom ver que, por saberes que o comodismo à a letargia da criação, continuas a reagir.

    O Alto Hama deseja-te um Feliz (tanto quanto possível) Natal.

    Kandandu  

  2. # Anonymous Anónimo

    SOM DE NATAL

    Um som de campainha
    Que por vezes retine

    Dentro dos meus ouvidos
    Assim que a noite cai

    Não deve ser motivo
    para grandes alarmes

    É de certo o meu pai
    Lá do céu onde vive

    A tentar telefonar-me

    David Mourão Ferreira
    Natal de 1995


    Feliz Natal
    São os meus votos  

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