A criação do mundo


Onde pára a República? *

Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orléans Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha herdou, inopinadamente, não o trono mas o estertor da monarquia. Não nascera para ser rei, tal como o pai, Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão, das mesmas casas, com excepção do Orléans que viria a ser transmitido a Manuel pela mãe deste, Marie-Amélie Louise Hélène d’Orléans, D. Amélia na simplificação portuguesa.

Não serve o parágrafo precedente, apenas, para pôr os leitores com os bofes de fora. A toda esta distância do tempo em que os últimos reis de Portugal foram baptizados, os nomes completos transmitem, mais do que a curiosidade histórica, algum anacronismo que só nas revistas cor-de-rosa parecia fazer sentido. Mas já não é apenas isso. As efemérides, cuja celebração, no século XIX, era uma forma mais ou menos encapotada de propaganda republicana, estão a ser, agora, pretexto para um revivalismo monárquico com visibilidade que aparenta ser desproporcional à popularidade da causa. Duarte Pio de Bragança, pretendente a algo que não existe, o trono, lançou as monarquias abertas e é motivo, aqui e ali, para notícias de grande destaque, em que não faltam o reverencial tratamento por “dom” ou a referência a títulos nobiliárquicos que não existem na nossa ordem jurídica.

Têm os monárquicos, obviamente, toda a legitimidade para batalhar pela causa que abraçaram. Democracia é isso, e monarquia não é, de forma alguma, um conceito antidemocrático. Choca, apenas, com a ética republicana que, numa sociedade entorpecida, é vista como coisa de intelectuais, com esse toque pejorativo que a boçalidade confere ao termo. Dessa ética, assente no acesso de todos a todos os patamares do edifício estatal, releva o dever de participação dos cidadãos. Dentro de dois anos será celebrado o centenário da República. Um tempo de festa e de balanço, em que todos os republicanos deverão perceber que os ideais não são eternos: existem para ser assumidos em permanência, isto é, neles participando. Vivendo-os e não abdicando da cidadania.


* comentário publicado hoje, no JN, a propósito do centenário da aclamação de D. Manuel II

10 Responses to “Onde pára a República? *”

  1. # Anonymous Anónimo

    Este comentário foi removido pelo autor.  

  2. # Anonymous Anónimo

    Meu caro

    Você deve estar enganado, D.Duarte Pio de Bragança não é pretendente a nada ... é sim uma coisa que nenhum de nós é : descendente dos Reis de Portugal, do lado da mãe de D.Pedro IV e do lado do pai por D.Miguel I
    Isto ninguém lhe pode tirar, e como diz D.Duarte ele só será Rei se o Povo quiser !!!  

  3. # Blogger POS

    Meu caro,

    Longe de mim querer que alguém tirasse o pedigree ao sr. Duarte Pio. Como republicano, entendo apenas que o país ultrapassou, plenamente, a fase de estar a sustentar uma família parasitária, sem qualquer mérito além de uma matriz genética qualquer, eventualmente fragilizada pela recorrente endogamia nas famílias parasitárias europeias.

    Saúde!  

  4. # Anonymous Anónimo

    Meu caro

    Eu não tenho problema de identidade e muito menos D.Duarte que não se preocupa com parasitas que cuja a sua ascendência há 100 anos atrás pertencia aos 75% de analfabetos.
    A minha família era do Povo mas que ia à escola, não temos analfabetos nos últimos 150 anos :)

    Mas transpondo para o presente,:), há tradições e a educação que passa de geração em geração. Não podemos fazer nada por quem não a cultiva e nem a tem LOLOLOLOLOLOLOLOL

    Sabe qual é o pedigri na republica ? sim aquela gaja importada da frança com o peito ao léu ? É ter uma bandeira do 3º mundo, porque veja só : onde há mais países com a cor ver de vermelha na bandeira ->> África e Ásia = republica das bananas LOL  

  5. # Blogger POS

    Presumo que quem ler a tão inteligente argumentação que aqui acabou de deixar, partindo do princípio que descodifica a barafunda que aparenta guardar na cabecita, será tentado a abraçar a causa monárquica. Confesso que não gosto disso. Com o bico do prego assim virado, arrisco-me a ser agraciado com um título de barão fantoche, daqueles que o sr. Duarte Pio tem na algibeira e vai distribuindo àqueles que o sustentam.

    Saúde!  

  6. # Anonymous Anónimo

    Diga já uma coisa :) Então o Estado Novo não era uma republica ? Se me responder a esta pergunta ...

    Pois sabe a republica não deixa saudades : 16 anos de autêntica guerra civil de 1910 a 1926, e 48 anos de Estado Novo que era a 2ª republica :) Então republica é sinal de Liberdade, Justiça Social e Democracia ? Não meu caro não é e por isso são poucos os que desejam celebrar os 100 anos dessa menina de peito ao léu. E curioso estamos a voltar ao mesmo de há 100 anos com o rotativismo parlamentar, já faltou mais para morrer o PSD ... não deve também faltar muito para o PS também. Ganha a abstenção claro :)

    Quanto a exemplos recentes, confusão vai na cabeça daqueles que todos os dias atiram lixo para os olhos dos portugueses. A OCDE num estudo publicado recentemente aponta que os países na Europa onde há mais "Justiça Social" é nos países "Monárquicos" HEHEHEHEHEH.

    Mas viu a reportagem da RTP no dia 5 de Outubro ? viu ? viu ? A coroa Espanhola gasta 9 milhões de euros anuais e o Cavaco gasta 16 milhões com a sua presidência ! Epá tantos cães a comer, e o homem nem família e nem património tem para sustentar como o rei D.Juan Carlos.

    Pois não quero titulo nenhum, curiosamente muitos dos que apontam o dedo como vossa excelência aponta são os primeiros a que fazem a questão de que sejam tratados por "doutores" quando têm só licenciaturas. Ah não se preocupe já me chega ser Licenciado em Matemática Aplicada e Computação, não preciso de etiquetas na testa porque não tenho complexos de inferioridade.

    Mas já agora acha que este "regimen" é mesmo justo e democrático ? Claro que sim então todos temos a "hipótese" de votar e ser presidentes. Que fantochada, então experimente candidatar-se sem : passado político, sem militância política, e sem máquina partidária por detrás ... nop não vai longe. Por isso meu caro não é democrático e nem justo porque quem elege os presidentes da junta são sempre os "Lobby's" veja lá a Soares da Costa e o PSD !
    O que lucramos com isto ? nada, temos um chefe de estado que nos primeiros 5 anos não faz nada para que o partido no poder o ajude a ser eleito para o segundo mandato. Gastam-se milhões de euros em campanhas que o PIB agradecia não serem gastos e que é um atentado a muitos pobres quanto menos cidadãos comuns.

    Não voltamos ao mesmo passado 100 anos ? leia então esta preciosidade de Eça de Queiros :

    Em 1871 era assim.
    Em 2008, o que mudou????

    "As Farpas" de Eça de Queirós

    «O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
    Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos.
    A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
    Não há princípio que não seja desmentido.
    Não há instituição que não seja escarnecida.
    Ninguém se respeita.
    Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
    Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
    Alguns agiotas felizes exploram.
    A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
    O povo está na miséria.
    Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
    O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
    A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
    Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»


    in primeiro número de "As Farpas" 1871.

    :))  

  7. # Blogger POS

    Caríssimo,

    Não pretendo catequizá-lo, espero que não deseje fazer o mesmo a mim e peço-lhe que me poupe à argumentação feita de lugares-comuns, ou também tenho de ir por aí fora e, sem pensar muito, lembrar meio século de guerra civil no século XIX - entre monárquicos, claro está -, trazer à liça o despotismo pombalino, em que as divergências eram resolvidas com peculiar pragmatismo, ou invocar os monopólios régios, em especial a partir de D. Manuel I, que tanto contribuíram para o atraso português. Nada disto, tal como os seus argumentos, tem a ver com a diferença entre república e monarquia: se para alguma coisa serve a história, permita-me que lho esclareça, é para desenvolver o espírito crítico, algo que não se consegue pela simples memorização de versões mais ou menos bem contadas do que se terá passado noutros tempos.

    Quanto aos pergaminhos curriculares com que tão modestamente acena, recomendo que, se é para isso que eles servem, os mande limpar a seco e impermeabilizar, pois, de tanto os agitar ao vento, poderão ficar com as palavras tão desbotadas como o seu próprio raciocínio.

    Saúde!

    (e não me parece que valha a pena estar a prolongar isto)  

  8. # Anonymous Anónimo

    se costuma dizer : "Contra factos não há argumentos !"

    Não preciso de prolongar mais a conversa.

    Viva Portugal !  

  9. # Anonymous Anónimo

    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.  

  10. # Anonymous Anónimo

    Onde pára a república? Está quase no lixo!
    Um dia disseram-me: a Monarquia é uma Senhora porque só se casa com um Rei. Ao passo que a república é uma prostituta porque serve-se de todos!!!
    É só olhar para o símbolo republicano e tire as suas conclusões!!!
    Monárquica  

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