A criação do mundo


Dos cheiros nauseabundos

Ainda hoje se gasta espaço noticioso por causa de um cheiro qualquer que se sentiu, há dias, em determinada zona de Lisboa, talvez pelo cosmopolitismo que seria confirmado por um ataque com gás sarin, anthrax ou qualquer nova praga que os terroristas internacionais tenham na manga. Afinal, foi uma funcionária da Faculdade de Farmácia quem, inadvertidamente, despejou no exterior o reagente contido num frasco danificado. Oh, inclemência!, quão mundano foi, afinal, o nauseabundo susto de Entrecampos. Mais piada teve, afinal, a minha façanha liceal, já bem distante no calendário, nascida do acaso de uma descoberta. E que descoberta terá sido essa?, perguntarão. Coisa simples, puro empirismo de um então aluno de quimicotecnia que mexia onde não devia. Aconteceu, portanto, que descobri, por acaso, ser o sulfureto de amónio a substância usada na produção, industrial ou artesanal, dos carnavalescos peidos engarrafados (designação bem mais poética do que o asséptico "bombinhas de mau cheiro"). Vai daí, num intervalo das aulas, em secreta missão de que só dois ou três tinham conhecimento, despejei gotas do pestilento líquido em todas as bancas do laboratório de Química, sendo glorificado depois, sempre em segredo, por ter assegurado um dia sem aulas naquele sector do Liceu de António Nobre. Depois, sob ameaça do congelamento das notas de toda a gente, acabei por confessar a autoria do crime à professora. Nada me aconteceu e, estupefacto, ainda fui elogiado pela frontalidade de assumir o erro.

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