Há cem anos, Alfredo Luís da Costa, Manuel dos Reis da Silva Buíça e outros conspiradores assassinaram o rei D. Carlos e o príncipe real, D. Luís Filipe. Pouco mais de dois anos e meio depois, a monarquia caiu e o país encetou o percurso republicano em que, com muitos avanços, recuos, conquistas e reveses, subsiste hoje sem grande contestação. A efeméride merece ser assinalada, na medida em que a maturidade de um povo não existe sem memória, e Portugal ainda precisa de amadurecer à força, nem que seja pelo aproveitamento exaustivo destes aniversários redondos.
Os atiradores, membros da Carbonária e, sem dúvida, republicanos, não foram propriamente heróis, nem a posteridade a isso deverá elevá-los. E não o faz. Até porque, contrariamente ao que tem sido sugerido nalguns meios, não me parece que a monarquia subsistiria se não houvesse regicídio. Hoje em dia, o esquema político das monarquias constitucionais apenas faz sentido em países que cedo desenvolveram formas de governo que não descuraram os cidadãos, como o Reino Unido ou os Países Baixos, em estados sem identidade e criados do nada num passado recente, como a Bélgica, ou em estados que congregam nações díspares e buscam na coroa um sinal de unidade, como a vizinha Espanha. Em sítios onde a República surge como natural corolário da libertação de monarquias absolutas e sociedades de privilégios, como Portugal ou França, só uma minoria defende a monarquia em nome de uma espécie de saudade congénita.
A ideia de aristocracia, algo que apenas existe no universo fantasista das revistas cor-de-rosa, é, na realidade, algo que escapa à natureza de sociedades que evoluíram para caminhos de liberdade e representatividade, sonhando com a ainda não atingida igualdade de oportunidades. Ser nobre nesse universo virtual, porque nada enquadra a nobreza à luz do Direito, é descender dos que primeiramente foram nobilitados, e esses são, ao longo do curso dos tempos, os que mataram mais, os que roubaram mais, os que serviram fielmente ou os que compraram a honraria do trato e da isenção. Hoje, matar não nobilita. Tomar pela força também não. Explorar também não. Subornar também não. Essas coisas podem dar proventos, mas não conferem honra, não configuram ideais de nobreza no sentido moral que podemos associar ao termo. Há alguns, porém, que assim não entendem, aqueles que ainda vivem ressabiados, agarrados a anéis de brasão, a retratos de tetravôs abastados, a ícones de um passado que acreditam correr-lhes nas veias. Muitos deles são monárquicos, usam bigodes farfalhudos e gostam de touradas.
Ora, são os monárquicos, tão expressivos e tão alienados como os amigos de Olivença, quem hoje homenageia na memória do senhor D. Carlos esse passado irrepetível. São paladinos de causas patéticas, seja por Olivença nunca vir a ser nossa, seja por apresentarem um abstruso pretendente ao trono, como é o senhor Duarte Pio de Bragança, fruto de uma linha miguelista que havia sido banida. Ora, não vindo a causa oliventina a propósito, importa gastar algumas palavras com os que pretendiam que o dia de hoje fosse de luto nacional. Felizmente, são livres de pretender o que lhes apetecer, livres que são de ter apetências absurdas. Mas a República nunca poderia mimoseá-los, enveredando por um caminho de autocomiseração em que os cidadãos não se revêem. O luto, mais do que honrar um rei que nasceu para ser vítima, porque os privilégios de nascimento teriam de ter um reverso de medalha, seria um acto de contrição da República e, consequentemente, uma ofensa aos que combateram a iniquidade, aos que tombaram no 31 de Janeiro, aos que fizeram o 5 de Outubro, aos que ajudaram a cair o Estado Novo e aos que travaram as tentações totalitárias subsequentes.
Porque embrutecido e apimbalhado, este país não é, hoje, verdadeiramente livre. Mas as instituições em que nos representamos teriam batido ainda mais no fundo se, face às solicitações esclerosadas dos monárquicos, não tivessem sabido resistir à tentação do universo cor-de-rosa. Aristocrático, fútil e corrosivo. Ainda bem que o não fizeram.
Ver aqui o que escrevi sobre o regicídio no JN
Os atiradores, membros da Carbonária e, sem dúvida, republicanos, não foram propriamente heróis, nem a posteridade a isso deverá elevá-los. E não o faz. Até porque, contrariamente ao que tem sido sugerido nalguns meios, não me parece que a monarquia subsistiria se não houvesse regicídio. Hoje em dia, o esquema político das monarquias constitucionais apenas faz sentido em países que cedo desenvolveram formas de governo que não descuraram os cidadãos, como o Reino Unido ou os Países Baixos, em estados sem identidade e criados do nada num passado recente, como a Bélgica, ou em estados que congregam nações díspares e buscam na coroa um sinal de unidade, como a vizinha Espanha. Em sítios onde a República surge como natural corolário da libertação de monarquias absolutas e sociedades de privilégios, como Portugal ou França, só uma minoria defende a monarquia em nome de uma espécie de saudade congénita.
A ideia de aristocracia, algo que apenas existe no universo fantasista das revistas cor-de-rosa, é, na realidade, algo que escapa à natureza de sociedades que evoluíram para caminhos de liberdade e representatividade, sonhando com a ainda não atingida igualdade de oportunidades. Ser nobre nesse universo virtual, porque nada enquadra a nobreza à luz do Direito, é descender dos que primeiramente foram nobilitados, e esses são, ao longo do curso dos tempos, os que mataram mais, os que roubaram mais, os que serviram fielmente ou os que compraram a honraria do trato e da isenção. Hoje, matar não nobilita. Tomar pela força também não. Explorar também não. Subornar também não. Essas coisas podem dar proventos, mas não conferem honra, não configuram ideais de nobreza no sentido moral que podemos associar ao termo. Há alguns, porém, que assim não entendem, aqueles que ainda vivem ressabiados, agarrados a anéis de brasão, a retratos de tetravôs abastados, a ícones de um passado que acreditam correr-lhes nas veias. Muitos deles são monárquicos, usam bigodes farfalhudos e gostam de touradas.
Ora, são os monárquicos, tão expressivos e tão alienados como os amigos de Olivença, quem hoje homenageia na memória do senhor D. Carlos esse passado irrepetível. São paladinos de causas patéticas, seja por Olivença nunca vir a ser nossa, seja por apresentarem um abstruso pretendente ao trono, como é o senhor Duarte Pio de Bragança, fruto de uma linha miguelista que havia sido banida. Ora, não vindo a causa oliventina a propósito, importa gastar algumas palavras com os que pretendiam que o dia de hoje fosse de luto nacional. Felizmente, são livres de pretender o que lhes apetecer, livres que são de ter apetências absurdas. Mas a República nunca poderia mimoseá-los, enveredando por um caminho de autocomiseração em que os cidadãos não se revêem. O luto, mais do que honrar um rei que nasceu para ser vítima, porque os privilégios de nascimento teriam de ter um reverso de medalha, seria um acto de contrição da República e, consequentemente, uma ofensa aos que combateram a iniquidade, aos que tombaram no 31 de Janeiro, aos que fizeram o 5 de Outubro, aos que ajudaram a cair o Estado Novo e aos que travaram as tentações totalitárias subsequentes.
Porque embrutecido e apimbalhado, este país não é, hoje, verdadeiramente livre. Mas as instituições em que nos representamos teriam batido ainda mais no fundo se, face às solicitações esclerosadas dos monárquicos, não tivessem sabido resistir à tentação do universo cor-de-rosa. Aristocrático, fútil e corrosivo. Ainda bem que o não fizeram.
Ver aqui o que escrevi sobre o regicídio no JN
Etiquetas: Portugal, regicídio, Viva a República
O único problema disto tudo é que o Duarte Pio muniu-se de "amiguinhos" para o ajudarem na promoção das mentiras e na conservação do trono e, em troca, concede-lhes umas medalhinhas e honras afins.
Para que conste: a única sucessora directa da coroa portuguesa foi D. Maria Pia de Saxe Coburgo Bragança, filha do Rei D. Carlos I de Portugal com D. Maria Amélia Laredo e Murca e, consequentemente, irmã do Rei D. Manuel II.
A seu tempo a verdade virá ao de cima e cairão por terra muitos dos monárquicos que andam enganados pela falsa Causa Real Duartina.
Mais informações em: www.reifazdeconta.com