Num sítio onde janto com alguma frequência, encontrei há pouco um amigo de juventude com quem, ali mesmo, apanhei grandes bebedeiras, nos tempos em que não sabíamos o que queríamos da vida ou o que ela pretendia de nós. Presumo que ainda não saibamos. Eu estou onde estou, ele está cheio de dinheiro. Mais por opção do que por necessidade, começou cedo a trabalhar numa área que florescia e que está hoje no centro das nossas vidas (ou não haveria blogues). E está cheio de dinheiro, fazendo questão de o aparentar. Não que tenha ganho em presunção, mas os Mercedes são cada vez maiores e mais potentes, os gadgets são “state of the art”, como dizem nos meios técnicos… Vejo-o agora de longe a longe, sei que mudou de casa para um duplex que pagaria um bloco de apartamentos a custo controlado. Aqueles com quem agora convive são os que, como ele, têm barcos e casas de férias sei lá bem onde… Enfim, regozijo-me com o sucesso dele, mas fico desconcertado quando me diz que, finalmente, há um negócio que o pode deixar bem. Porque nem todos os anos são de vacas gordas, porque 2006 foi magnífico e 2007 meteu nojo, porque, enfim, já não é o mesmo com quem passei férias na caravana de uma tia qualquer que a tinha estacionada em permanência no parque de campismo da Figueira da Foz. Mais do que gerar inveja, que não sinto e de nada me serve, estes encontros fortuitos ensinam-me que eu, mero assalariado contando os tostões em função de um nível de vida fracote, em que as grandes extravagâncias são a compra de livros ou as idas a um ou outro restaurante, tenho de ter em conta que o meu pouco é relativo e os meus queixumes ofendem os que vivem dignamente com muito menos. Mas queixo-me na mesma, à medida das minhas grandes expectativas, mero grão de areia face ao quimérico programa de actividades desse meu amigo de outros tempos.
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