A criação do mundo


Marmeleira by night

Ignoro como é a vida nocturna da Marmeleira. Mesmo a vida nocturna do Porto, onde nasci e vivo, guarda para mim muitos segredos, embora nunca tenha tido medo de andar pela rua ou de ir aqui ou acolá beber um copo, hoje com menos regularidade do que noutros tempos, porque assim acontece, não porque haja uma guerra civil nas ruas. Suponho que os nativos da Marmeleira, posta no mapa porque lá vive um "famoso", podem circular descansadinhos pela terra depois do sol-posto, admitindo que não o façam porque a ruralidade ou os "early morning blogs" obrigam a madrugar. Não me verão, todavia, a dissertar sobre o que não conheço e a dizer que na Marmeleira os melões são maiores do que os de Almeirim, quando talvez fosse mesmo mais adequado falar de marmelos. Falar de marmelos prolixos que, se contassem a historinha toda, talvez não tivessem a mesma aura de credibilidade assente em coisa nenhuma. Quem escreve que "No Porto, tudo o que pareça dar razão a Rui Rio é anátema para o Jornal de Notícias e para a redacção do Porto do Público" não deve ser pessoa de bem, e o melhor seria eu ficar por aí. Mas isso seria um soez ataque ad hominem, mera bojarda para o isolar como único estandarte de elevação numa pátria de boçais. Portanto, terei de me estender um pouco mais, questionando qual terá sido, afinal, o papel de Pacheco Pereira, desde a primeira hora, na estratégia de Rui Rio contra o dito "stato quo ante", direccionado para um alvo e evitando outro (do mundo do futebol falo, leia quem quiser). Porque esse "stato quo ante", promíscuo ou não, corresponde ao último tempo em que a cidade do Porto mexeu, antes de o actual gestor a mergulhar no marasmo. A vida política portuguesa, mesmo quando vista da Marmeleira, é feita de vinganças e desforras, de ódios e rancores. Cá se fazem, cá se pagam. E quando demoram a ser pagas, insiste-se, insiste-se até cair no ridículo. O que Pacheco Pereira nunca perceberá, do alto do sua postura elitista, é que, mais do que ser comentador descomprometido (sonhemos que o seja) está a desencadear ódios e a alimentar o regionalismo que tanto condena, tanto a norte como a sul. As claques de futebol, todas, são território propício à marginalidade. Em todo o lado. No Porto, em Lisboa, na Merdaleja ou na Marmeleira. E todas podem ter ligações perigosas, algumas em patamares ainda mais intocáveis do que o que aqui se verifica, protegidas sabe-se lá por quê ou por quem. Agora, dizer que a ligação de marginais a uma claque é o aspecto mais relevante, mais relevante do que a própria actividade criminosa, é algo que apenas o ódio justifica. E os que odeiam serenamente, os que urdem teias de vingança, são especialmente perigosos.

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