A criação do mundo


Baixando as calcinhas ortográficas

Comecei há bocado a ler "Budapeste", de Chico Buarque (não é novidade, bem sei, mas nem sequer pretendo falar do livro pelo livro). É que está agora a Edite Estrela na televisão a defender a porra do acordo ortográfico, até na argumentação dos apologistas um sintoma da congénita subserviência dos portugueses. Ora, se eu leio o que os brasileiros escrevem, se entendo as expressões idiomáticas (ou tento aprendê-las, se as não conhecer), se reconheço e respeito as peculiaridades da ortografia, se até me divirto a ler mentalmente com sotaque brasileiro, por que carga de água não há-de funcionar de igual modo no sentido inverso? É evidente que a língua evolui e que, periodicamente, as mudanças têm de ser normalizadas. Porém, ter de escrever "umidade" e outras coisas aviltantes do género, só porque os brasileiros são mais e há que acabar com os problemas com que se deparam as instituições internacionais que têm de verter documentação para Português, é uma renúncia à nossa identidade. Hoje escreve-se "mãe" em vez de "mãi" e "farmácia" em vez de "pharmacia", mas porque evoluímos nesse sentido. Não por uma necessidade de sobreviver na submissão. Que eu saiba, os brasileiros ainda gostam de dizer que falam Português - e falam-no. Não temos de temer que, por sermos dez milhõezecos, haja uma secessão linguística que nos tire o estatuto de potência imperial da fala e da escrita.

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1 Responses to “Baixando as calcinhas ortográficas”

  1. # Blogger altohama

    E se fossem só as calcinhas ortográficas...  

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