A preguiça e outras distracções
5 Comments Publicado por POS - terça-feira, 25 de novembro de 2008 às 01:38.
Dos vários expedientes para disfarçar os momentos de desinteresse pelo blogue ou pela blogosfera, muitos deles já por aqui experimentados, talvez o mais honesto seja reflectir sobre o que isto é ou sobre o que significa. Significa tudo e nada, pois tudo o que é a nossa vida é nada no esmagamento implacável dos tempos. E se um colega, hoje, criticando a letargia d’A Criação do Mundo, aconselhava o recurso despudorado a vídeos do YouTube – “Mete lá qualquer coisa do Stravinsky” –, a audição, há pouco, da entrevista dada à Antena 1 pela Leonor, uma dessas pessoas que ganham forma na blogosfera e que nos surpreendem em situações destas, porque têm voz e existência (sim, claro, todos temos, isto é só para dar um toque poético à prosa, queiram pois desculpar), ouvi-la, dizia eu, recentrou-me numa ideia que tenho desde que cheguei a este universo paralelo, no Verão de 2003: por mais pessoal que um blogue seja, ou até intimista, na justa medida daquilo que entendemos partilhar sem que nos sintamos devassados, destina-se a ser lido, pelo que pressupõe um sentido de responsabilidade idêntico ao que preside à escrita num jornal nacional, que, como sabem, é o meu modo de vida.
Longe vai essa febre nascida em 2003 e, sinceramente, já não há pachorra para andar por aqui a comentar tudo e mais alguma coisa. Também isso, associado aos afazeres e canseiras do “mundo real”, ajuda a que o blogue ganhe ferrugem nas engrenagens e teias de aranha nas alavancas. Mas é a noção do leitor, a ideia de que não vale a pena dar-lhe as côdeas ressequidas de um pão desmiolado, que mais contribui para o silêncio. Isso, claro, e a preocupação de não traçar da vida apenas o negro retrato que dela por vezes fazemos, enganados que somos pelo torpor em que nos põe a pusilanimidade com que, tantas vezes, somos obrigados a conviver e, pior, a interagir.
Contava-me há dias um amigo, cuja identidade omitirei por ser um escritor sexagenário de renome nacional (se ele ler identifica-se), que havia, no manual único de filosofia que teve de engolir no liceu, pérolas como a que cito de cor: “A distracção é uma característica dos sábios, dos inocentes e dos basbaques”. Nalguma categoria hão-de colocar-me os leitores, tão distraído de vós tenho andado.
Longe vai essa febre nascida em 2003 e, sinceramente, já não há pachorra para andar por aqui a comentar tudo e mais alguma coisa. Também isso, associado aos afazeres e canseiras do “mundo real”, ajuda a que o blogue ganhe ferrugem nas engrenagens e teias de aranha nas alavancas. Mas é a noção do leitor, a ideia de que não vale a pena dar-lhe as côdeas ressequidas de um pão desmiolado, que mais contribui para o silêncio. Isso, claro, e a preocupação de não traçar da vida apenas o negro retrato que dela por vezes fazemos, enganados que somos pelo torpor em que nos põe a pusilanimidade com que, tantas vezes, somos obrigados a conviver e, pior, a interagir.
Contava-me há dias um amigo, cuja identidade omitirei por ser um escritor sexagenário de renome nacional (se ele ler identifica-se), que havia, no manual único de filosofia que teve de engolir no liceu, pérolas como a que cito de cor: “A distracção é uma característica dos sábios, dos inocentes e dos basbaques”. Nalguma categoria hão-de colocar-me os leitores, tão distraído de vós tenho andado.
Como para sábio é muito novo, eu cá vou no inocente :-)
Nada mal! Sinto-me mais jovem e menos basbaque!...
E eu a pensar que era mesmo "dessas pessoas que ganham forma na blogosfera e que nos surpreendem em situações destas", afinal é só pela prosa, Pedro ;-)
Estou abrincar, claro, obrigada pelas palavras
Assim são as vedetas radiofónicas, simpáticas e suficientemente discretas para não denunciar o horrendo acento agudo que me tinha calhado em "à prosa", logo a seguir à coisa das pessoas que surpreendem. Vou já a correr corrigir :-) De nada, Leonor, as palavras, aqui, querem-se sempre justas, se bem que às vezes tentem fintar-me, as danadas!...
Distraio-me muito, mas sei que não sou sábio...