Obras num passeio perto de casa recordaram-me, hoje, a faina de ontem. Junto ao lancil, um homem fazia a massa que tapará os buracos, monte de cimento com uma cratera no meio, água, areia, enxada, suor. Exactamente como ontem, no balcão da cozinha, fermento em vez de areia, as mãos a substituir a enxada. Fiz pão. Pela primeira vez na vida. À unha, sem máquinas dedicadas, sem o subterfúgio da mundana Bimby - que a todos transforma em cozinheiros mas custa uma pipa de massa, da outra -, apenas com o saber recolhido da televisão e de algumas páginas da Internet. Recheei a massa com tomate refogado, presunto, queijo ralado, algumas uvas passas para suavizar a mistura. Cozidos, ainda fumegantes, e eu ansioso por provar os pães. Uma delícia, comprovada mal amornaram, confirmada depois, à noite, pelos índios que encontrei no jornal para ir à janta. Para lá das vaidades culinárias sobressai, porém, a terapia das mãos na massa, com persistência firme e delicada, antes e depois da primeira levedação, o gesto de dar forma a uma mescla improvável de ingredientes, o prazer de tirar do forno o mais importante de todos os alimentos. Tão simples mas tão primacial, o pão, fielmente criado com o suor do rosto. Sim, estava calor.
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E nem uma migalhinha para uma esfomeada Lésse...
:-) Pensava que a cadelinha Lésse só comia ossos e ração. De qualquer maneira, como ficou ao ar, já estava recesso. Ou assente, como se diz na Beira.