A criação do mundo


A alegre podridão

O filme que se segue é chocante. Deveria estar a ser devidamente investigado pelas autoridades policiais, mas também deveria ser um aguilhão ferrado nas consciências de todos aqueles que, ao longo dos últimos anos, têm levado o sistema educativo português à total degradação. Admito que haja mediocridade entre os professores, atendendo a que até ao Governo a mediocridade chega, mas incomoda-me sempre que alguém vê os docentes como uma corporação resistente ao progresso, transformando em leis gerais as experiências que viveram ou as experiências que julgam que os filhos vivem, porque os filhos têm sempre razão. Sempre tenho dito que o problema de educação, muito mais do que na escola, está no embrutecimento geral da sociedade, potenciado pelo consumismo, pela iliteracia, pela televisão aparvalhada ou pelo crédito malparado. Os meninos e meninas que aqui se divertem à custa de uma professora, sujeita a ser humilhada no local de trabalho (ou porque gosta de ensinar ou porque tem de se sujeitar a ser mal paga, em relação à responsabilidade social que se lhe atribui), não estão integrados em projectos especiais de reinserção. Estão perfeitamente inseridos na sociedade, são a parte sombria do futuro que aí vem (porque - concedam-me algum bom senso - as crianças e jovens não são todos assim). E estão a ser promovidos pelas políticas de educação baseadas no facilitismo e no fingimento, deste Governo e dos outros que o precederam, até porque sou levado a acreditar que a doença não está nos políticos, mas nessa chusma burocrática das ciências da educação, continuamente activa e indiferente ao vaivém de ministros a que a democracia obriga. Os professores merecem ser respeitados, evidentemente, mas será mais importante apoiá-los. Não em manifestações pontuais ou em acções simbólicas de protesto, mas restituindo-lhes, de uma vez por todas, a autoridade técnica e moral que lhes tem sido roubada pela escória que vai subsistindo entre pedagogos e políticos.



(via Blasfémias)

4 Responses to “A alegre podridão”

  1. # Anonymous Anónimo

    Uma cena de histerismo. Nunca semelhante coisa me aconteceu e era só o que faltava! Mas tendo em conta que ficarei a dar aulas até aos 67 anos (se lá chegar), não sei o que o futuro me reserva... Estás a ver-me com 67 anos a dar aulas à ganapada? Pois, é muito justo porque os restantes trabalhadores assim-assado... Não sei, parece-me impossível, mas... Talvez distribuição de Xanax gratuita para a menina?  

  2. # Anonymous Anónimo

    Durou pouco o vídeo. Já foi censurado.  

  3. # Anonymous Anónimo

    Pelos vistos, já todo o Portugal viu a cena... Quero apenas salientar, para todos os que acham que a professora foi longe de mais ao querer confiscar "propriedade privada" que, mesmo sem necessidade de recorrer ao estatuto do aluno, os professores têm ordem de confiscar telemóveis quando usados na sala de aula. Logo, a profesora limitou-se a cumprir o regulamento. Possivelmente, teve alguma falata de jeito e eu faria as coisas de forma diferente e com muito mais calma - garanto -, mas isso não escamoteia o facto de que a professora se limitou a cumprir ordens (nas vossas empresas não têm que cumprir ordens e regulamentos?) e que num sistema de ensino menos caótico a aluna sofreria consequências sérias (provavelmente ser expulsa sem apelo nem agravo do sistema normal de ensino e passar a uma escola especial), assim como os seus colegas. Mas o que se pode esperar de uma terra em que cada um se julga o rei? Sem mais comentários.  

  4. # Blogger POS

    O preocupante é que estes casos, habitualmente, ficam-se pela solução pontual (muitas vezes inconsequente) de uma situação pontual. Ou seja, a existência de problemas de fundo, bem atestada pela atitude passiva, divertida e cúmplice dos colegas. Ou seja, as certezas relativas às políticas de educação (deste e de todos os governos que não têm sabido lidar com a massificação do ensino e com a necessidade de fazer melhor figura nas estatísticas europeias) vão permanecer intactas. Quanto à outra questão, enfim, é mais uma patetice dos elementos da espécie homo liberalis, que apenas vêem o dogma da propriedade privada, esquecendo que o professor é a autoridade dentro da sala de aulas. Se fosse como dizem, sempre poderiam recusar-se a que as forças de segurança lhes apreendessem os carros de alta cilindrada, quando tal medida se aplica por violações do Código da Estrada.  

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